20/12/2018

A irrupção do Mistério de Deus em nossa vida



Se, no domingo anterior, se podia dizer que os raios do Sol Iustitiae já abrasavam o horizonte, na liturgia de hoje (4º domingo), rodeada pelas antífonas “Ó” (2), se abrem as nuvens da madrugada. Irrompe em nossa humanidade, de modo indescritível e fascinante, a atuação definitiva do amor de Deus.

A oração do dia evoca todo o Mistério da Salvação, desde a anunciação do anjo a Maria até a Ressurreição do Cristo. O que celebramos no Natal não é apenas o nascimento de um menino, mas a irrupção da obra de Deus como realização definitiva da história humana.

A 1ª leitura tem o efeito de um aperitivo. Evoca o paradoxo da minúscula cidade de Belém, que, porém, é grande por causa de Javé, que cumprirá sua promessa de chamar novamente um “pastor” da casa de Jessé (pai de Davi). A pequena cidade toma-se sinal do plano inicial de Deus (“suas origens remontam a tempos antigos”; Mq 5,1). Não é a grandeza segundo critérios humanos, que é decisiva para Deus. Isso se mostra plenamente no mistério que se manifesta em Maria.

O evangelho de hoje (4º domingo) abraça dois extremos: a humildade de uma serva, que vai ajudar sua prima no fim da gravidez, reforçada nesta disponibilidade por estar ela mesma grávida; e a grandeza de seu Senhor, que ela exalta no júbilo do Magnificat. Esta complectio oppositorum revela o mistério de Deus nela. Sua prima, Isabel, ou melhor, o filho desta, João, ainda no útero, toma-se porta-voz deste Mistério. Pois ele é profeta, “chamado desde o útero de sua mãe”. Saltando no seio de sua mãe, aponta o Salvador escondido sob o coração de Maria. E Isabel traduz: “Tu és a mulher mais bendita do mundo e bendito é também o fruto de teu seio … Feliz és tu, que acreditaste”. Isabel sabe que o mistério de Deus só acontece onde é acolhido na fé, na confiança posta nele. Esta não é um frio e intelectual “Amém” a obscuridades lógicas, mas engajamento pessoal numa obra de dimensões insondáveis. Um risco: uma mocinha do povo carrega em si o restaurador da humanidade. Mas Maria conhece o modo de agir de Deus. O Magnificat o demonstra (vale ler mais do que somente as palavras iniciais). Deus opera suas grandes obras naqueles que são pequenos, porque não são cheios de si mesmos e lhe deixam espaço. O espaço de um útero virginal. O espaço de uma disponibilidade despojada de si.

O próprio enviado de Deus confirma esta maneira. “Eis-me que venho para fazer tua vontade”. Esta frase de Sl 40[39] realiza-se em plenitude no Servo por excelência, Jesus, que vem ao mundo para tomar supérfluos todos os sacrifícios e holocaustos, já que ele mesmo imola de modo insuperável sua existência, em prol dos seus irmãos (2ª leitura).

Serviço e grandeza, duas faces inseparáveis do Mistério de Deus cuja manifestação celebraremos dentro de poucos dias. Mistério do amor. Claro, amor é uma palavra humana. Deus é sempre mais do que conseguimos dizer. Dizem que o amor movimenta o mundo, mas é preciso ver de que amor se trata. O amor autêntico recebe sua força da doação. Num sentido infinitamente superior, se pode dizer isso de Deus também. O que aconteceu em Jesus no-lo revela. Este amor de Deus para os homens ultrapassa o que entendemos pelo termo amor, mas é um amor verdadeiro, comparável quase com o amor dos esposos, quando autêntico: os céus que fecundam a terra, Deus que cobre uma humilde criatura com sua sombra. A liturgia não tem medo destas imagens. Fecundada pelo orvalho do Céu, a terra se abre para que brote o Salvador.

(2) Sugerimos que se procure reaproveitar as tradicionais “antífonas Ó” (17 a 23 de dez.), por causa de sua densidade simbólica e valor musical.




Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
Grifos: Sandra Regina Oliveira OFS (Redação - Pascom)
Imagem: Rafael Duarte (Coordenação - Pascom)

17/12/2018

Alegria por causa da proximidade de Deus




Quando a esperada vinda está finalmente para se realizar e todos os sinais a confirmam, a esperança e a preparação se transformam em alegria e júbilo. A curto prazo, a perspectiva da vinda transforma-se em antecipação da presença. Tal é o espírito do terceiro domingo do Advento. Neste ano C, é lido o texto que deu seu nome ao presente domingo: Gaudete, “Alegrai-vos” (FI 4, 4-7; 2ª leitura). O sentimento de viver na presença do Senhor deve produzir no cristão não apenas uma profunda alegria, mas também um novo tipo de relacionamento com seus irmãos humanos: O epieikes, o bom grado – o cristão não apenas tem alegria, mas é uma alegria para quem o encontra. Será verdade?

No evangelho, os que acolhem a pregação do Batista lhe pedem normas de comportamento em vista da vinda do Messias. Essas normas se resumem em uma só palavra: ser gente. Estamos acostumados demais a estes textos para lhes descobrir novidade. O normal que se esperaria do profeta e asceta seria: exercícios de penitência, jejum e cilício. Nada disso. Repartir aquilo que temos. Para os fiscais de imposto: serem honestos. Para os soldados: não molestar as pessoas e contentar-se com seu soldo. Ser gente, esta é a exigência quando o Reino de Deus acontece no meio de nós.
João sanciona essas orientações proclamando o significado decisivo do que está acontecendo e explica o sentido verdadeiro de seu sinal (seu “sacramento”), o batismo. É um sinal do verdadeiro batismo, que um mais forte do que ele vem administrar: o banho no Espírito e no fogo: no Espírito, para os justos, que serão impelidos pelo espírito de Deus, transformados em profetas (cf. Jl 3) e santos; no fogo, para os ímpios, que queimarão como o refugo na hora da ceifa. Pois o “mais forte” já está com a pá na mão para limpar o grão no terreiro.

Sofonias, numa linguagem que se aproxima do Segundo Isaías, proclama promessas de salvação. Javé revogou a sentença contra seu povo. Os povos felicitarão a “Filha (de) Sião”, Jerusalém, ou seja, o povo de Israel, porque Javé se revela no meio dela como um herói vencedor (1ª leitura).

Os textos de hoje (3º domingo) mostram bem o duplo sentido que a presença de Deus toma em nossa vida, em nosso mundo. A proximidade do Santo não é necessariamente terrível e mortal, como sugerem muitos textos do A.T., para o homem impuro. Para quem se converteu a Deus, sua proximidade é confirmação, força, razão de alegria. Quem dá a impressão de viver na presença de um Deus que o deprime, mostra uma falha em si mesmo. Quem, porém, se entregou a Deus e se sente bem com ele, é uma alegria para seus irmãos.

Isso vale também para a Igreja. Não podemos duvidar de que Deus está com ela. Mas será que ela está com Deus? Quando ela é um peso para os homens (não por sua exigência de fidelidade e virtuosa caridade, mas por seu egoísmo grupal, mesquinhez ou sei lá quê), ela mostra que a vinda de Deus não a transformou

A alegria de Deus só se torna palpável em nós, quando realmente o desejamos em nosso meio. Não será grande parte da “tristeza” do cristianismo a conseqüência de os cristãos não desejarem Deus como centro de sua vida, de sua comunidade, de sua “cidade”? Reis cristãos exerceram atroz opressão em nome de Cristo, porque seu interesse não era a vinda de Cristo, com sua boa-nova libertadora para os pobres (aclamação ao evangelho), mas a implantação do próprio poder. Era uma cristandade ambígua, sem desejo de Deus e, portanto, sem alegria em lhe servir. Ouvimos hoje um apelo para nos libertar de nossos egoísmos pessoais e grupais (Fl 4,6). Então, Deus será reconhecível como aquele que é forte em nós e em nosso meio, e nossa própria existência e comunidade será o Evangelho por excelência.




Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
Grifos: Sandra Regina Oliveira Ofs (Redação - Pascom)
Arte: Rafael Duarte (Coordenação - Pascom)

11/12/2018

Preparação para a vinda do Senhor





Somos chamados a crescer até estarmos na altura de receber Deus; mas, nesse crescimento, a força que nos anima é o próprio fato de Deus se voltar para nós. O que faz um aluno crescer é a atenção que o professor lhe dedica. O que faz uma criança andar é a mão estendida de sua mãe. Por isso, nosso crescimento para a perfeição se alimenta da contemplação do Deus que vem até nós. Na liturgia de hoje (2º domingo), esta perspectiva é considerada, por assim dizer, a médio prazo (no próximo domingo será a curto prazo). Lucas situa no decurso da história humana o despontar do Reino de Deus, na atividade do Precursor, João Batista (evangelho). Ainda não se enxerga o “Sol da Justiça”, mas seus raios já abrasam o horizonte. A perspectiva é ainda distante, mas segura: “Toda a humanidade enxergará a salvação que vem de Deus” (Lc 3,6; cf. 1ª leitura). Para isso, João Batista prega um batismo que significa conversão, lembrando a renovação pelas águas do dilúvio, do Mar Vermelho, do Jordão atravessado por Josué.

João Batista usa a imagem do aplanar o terreno, abrir uma estrada para que o Reino de Deus possa chegar sem obstáculos. É a imagem com a qual o Segundo Isaías anunciou a volta dos exilados, liderados por Deus mesmo (Is 40,3-4; 42,16-17 etc.) e que, mais tarde, o livro de Baruc utilizou para incentivar a “conversão permanente” do povo à confiança em Deus (Br 5,7; 1ª leitura). Deus realiza sua obra, convoca seus filhos de todos os lados (Br 3,4), deixa sua luz brilhar sobre o mundo inteiro (3,3). A volta do Exílio foi prova disso (cf. salmo responsorial). Mas agora, anuncia João, vem a plenitude. Agora é preciso “aplanar” radicalmente o caminho no coração da gente.

A oração do dia fala no mesmo sentido: tirar de nosso coração todas as preocupações que possam impedir Deus de chegar até nós. Alguém pode entender isso num sentido individual. Mas não só isso. Vale também para a sociedade. Devemos tirar os obstáculos do homem e das estruturas que o condicionam. Renovação interior de cada um e renovação de nossa sociedade são as condições que a chegada do Reino, a médio prazo, nos impõe.

Portanto, o Reino não age sem nós. Não somos nós que o fazemos, mas oferecemo-lhe condições de se implantar, como um governo oferece condições a indústrias de fora para se implantar. Só que, no caso do Reino, podemos contar com os lucros do investimento … Estes lucros são “o fruto da justiça” de que Paulo fala (Fl 1,11; 2ª leitura). O Reino de Deus não vem somente pedir contas de nós; leva-nos a produzir, para nosso bem, o que Deus ama (pois ele nos ama).

O Reino já começou sua produção entre nós, desde a primeira vinda de Jesus. Porém, fica ainda para se completar. O que João pregou naquela oportunidade continua válido enquanto a obra não for completada. Somente, estamos numa situação melhor do que os ouvintes de João. Nós já podemos contemplar os frutos da justiça brotados de um verdadeiro cristianismo. Seja isso mais uma razão para dar ouvido à sua mensagem. Na medida em que transformarmos nossa existência histórica em fruto do Reino, entenderemos melhor a perspectiva que transcende nossa história, a plenitude cuja esperança celebramos em cada Advento (oração final).




Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
Grifos e breve adaptação: Sandra Regina Oliveira OFS (Redação - Pascom)
Arte: Rafael Duarte (Coordenação - Pascom)

04/12/2018

Caminhar ao Encontro do Senhor que vem


Quando se aproxima uma visita esperada, a maioria das pessoas não dorme muito bem. Quando a visita é temida, as pessoas ficam inquietas. Quando é desejada, ficam agitadas … Porém, há uma diferença: a tensão do medo paralisa, a tensão do desejo desperta a criatividade. O evangelho de hoje (1º domingo) alude às duas atitudes. Anuncia cataclismos cósmicos, que encherão os homens de medo (Lc 21,26). Mas para os cristãos tudo isso significa: “Coragem: vossa salvação chegou!” (21,28). Por isso, o cristão vive à espera “daquele dia” num espírito de “sóbria ebriedade”, fazendo coisas que ninguém faria, mas sabendo muito bem por quê.

Ora, nós esperamos uma visita querida e ficaríamos muito penados se o visitante não nos encontrasse despertos para sua vontade, mas apenas ocupados com nossas próprias veleidades. Como a moça que espera seu namorado chegar não mais pensa em suas próprias coisas, mas está toda em função dele, assim nós já não vivemos para nós, mas para ele que por nós morreu e ressuscitou (para vir novamente até nós).

Paulo descreve maravilhosamente essa realidade na sua carta escatológica por excelência, a 1 Ts (2a leitura). Na ânsia pela vinda do Senhor, sempre podemos crescer mais, e é Ele que nos deixa crescer, para que sua chegada seja preparada do modo mais perfeito possível.

A idéia do crescimento é muito valiosa em nossa vida cristã. É o remédio contra o desespero e contra a acomodação: contra o desespero de quem acha que sempre será inaceitável para Deus; e contra a acomodação dos que dizem: “Ninguém é perfeito: portanto …” Não somos perfeitos, mas nem por isso a perfeição deixa de ser nossa vocação. O caminho do cristão não consiste em uma perfeição alcançada e acabada, mas numa contínua conversão para a santidade de Deus, que é sempre maior do que nós. O importante é nunca ficarmos satisfeitos com o que fizemos e somos, mas cada dia de novo procurar voltar daquilo que foi errado e progredir naquilo que foi bom.

Assim, a idéia do dia definitivo não paralisa o cristão, mas o torna inventivoDesinstalaQuem acha que já não precisa mudar mais nada em sua vida, não é bem cristão. Alguém pode achar que está praticando razoavelmente bem os deveres para com sua família, em termos de educação; para com seus empregados, em termos de salário; para com sua esposa, em termos de carinho e fidelidade; e até para com a Igreja, em termos de contribuição para suas necessidades financeiras; estando entretanto cego por aquilo que lhe é exigido para estruturar melhor a sociedade, para que a justiça seja promovida e não contrariada. Tal pessoa deve ainda crescer muito. E ai se não quiser! Um jovem, por outro lado, pode perguntar-se, com o salmista: “Como pode um jovem conservar puro seu caminho?” Cresça, que aprenderá sempre melhor em que consiste a verdadeira pureza. Só nunca se contente com um “padrão aceitável” para a “sociedade”.

Portanto, a liturgia de hoje (1º domingo) nos ensina o dinamismo do crescimento cristão, com vistas ao reencontro definitivo com nosso Senhor. Desde o primeiro domingo, marca a existência cristã com este sentido.

O homem e a sociedade sempre podem ser renovados. A 1ª leitura nos lembra essa verdade fundamental. Jerusalém, no tempo pós-exílico, era não tanto o monte de Javé quanto um montão de problemas. Mas mesmo assim lhe é prometido um novo nome, sinal de uma realidade nova: “Deus nossa justiça” (Jr 33, 16). Este texto confere, portanto, à expectativa cristã um toque comunitário. Assim podemos interpretar também a expressão da oração do dia, que pede para que alcancemos o reino celestial. Num reino, ninguém está só. Daí ser legítima a tradução do missal brasileiro: “a comunidade dos justos”. Um novo nome para Jerusalém, uma utopia válida para todos nós, eis o que nos impele ao encontro do Senhor que vem.




Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
Grifos e leve adaptação: Sandra Regina Oliveira OFS (Redação - Pascom)
Arte: Rafael Duarte (Coordenação - Pascom)

27/11/2018

Vocação: Especial - Ordenação Rodrigo Carneiro






E nossa comunidade paroquial terá graça de acompanhar mais uma ordenação.

Natural do Rio de Janeiro, nascido em 07/11/1984, paróquia de origem São Brás - Madureira, Rodrigo Carneiro começou o estágio pastoral em nossa paróquia ainda seminarista e será ordenado presbítero no próximo dia 08 de dezembro, às 8:30 na Catedral de São Sebastião do Rio de Janeiro (dia da Imaculada Conceição).

Nosso alegre diácono nos contemplou com uma pequena partilha sobre seu processo vocacional.



1. Quando começou a frequentar a igreja?

R. Eu sempre fui católico, minha família sempre me levava a Igreja e me motivava a estar presente, mesmo eu não gostando muito. Sendo assim, eu comecei a frequentar com desejo e vontade própria desde a minha crisma, que foi quando tive de fato a minha experiência com Deus e conheci Seu amor.


2. Se formou em alguma profissão? Se sim, exerceu?

R. Sim, eu sou formado em nutrição pela Universidade Federal Fluminense, e também fiz mestrado em Ciência de alimentos pelo Universidade Federal do Rio de Janeiro. Eu exerci a minha profissão de nutricionista trabalhando durante 5 anos com técnico de qualidade de alimentos no grupo Pão de Açúcar.


3. Quando percebeu que o matrimônio poderia não ser a sua vocação? Poderia nos contar um pouco como foi essa descoberta?

R. Isso começou a passar pela minha cabeça um ano após a minha crisma, eu estava namorando e com muitos planos de uma vida matrimonial, porém os sonhos não estavam coadunando com o sentimento que Deus colocava em meu coração. Com isso fiquei mais um ano e meio pensando antes de terminar o namoro e mais dois anos pra entrar no seminário.


4. E por quê presbítero diocesano?

R. Simplesmente por que ouvi a voz de Deus que não permitiu que eu fosse a nenhum outro lugar, mas me trouxe até aqui!



A experiência de cada ordenação é única! E com certeza cada presbítero ordenado deixou seu testemunho para esta comunidade. E agora mais esta alegria, única, que deve ser vivida com intensidade e gratidão, louvando a Deus por mais uma vocação e orando para que o novo presbítero nela persevere, cresça e dê muitos frutos.





"'Senhor Tu sabes tudo, Tu sabes que eu te amo', meu lema de ordenação, que retrata aquilo que experimento todos os dias junto de Deus. O Senhor sabe as imperfeições do meu amor, e minhas limitações, mas me chamas e conduzes-me a seguir em frente, pois entende e me faz entender que não existe outro lugar para eu estar."

(Diácono Rodrigo Carneiro)







Paz e Bem!
Sandra Regina Oliveira OFS
(Redação - Pascom)

14/11/2018

Ano do Leigo: Vida em comunidade


CNBB


O Ano Nacional do Leigo está chegando ao fim, terminando em 25/11 - Solenidade de Cristo Rei. Mas na verdade ele começa todos os dias! O Leigo tem papel fundamental na igreja, nos detalhes cotidianos com toda sua profundidade. Como nos diz o Catecismo "Uma vez que, como todos os fiéis, os leigos são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, eles têm a obrigação e gozam do direito, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente por meio deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que sem ela o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito (CIC 900)".

Cabe aos fiéis leigos "animar as realidades temporais com um zelo cristão e comportar-se como artesãos da paz e da justiça (CIC 2442)". No testemunha diário: na vida familiar, no trabalho, na paróquia, nos transportes coletivos, nos ambientes de entretenimento como parques, cinemas, enfim... Visando sempre o bem comum.

O bem comum perpassa pela vida em comunidade. A vida em comunidade, como sabemos, não resume-se somente a uma ambiente mas a vários conforme já exposto. E a paróquia em que habitamos é escola para exercitamos o objetivo do bem comum, assim como da santidade. Abaixo seguem alguns trechos da nova exortação apostólica do nosso querido Papa Francisco sobre Santidade no Mundo Atual (Gaudete et Exsultate) no que se diz respeito a comunidade:


  • É muito difícil lutar contra a própria concupiscência e contra as ciladas e tentações do demônio e do mundo egoísta, se estivermos isolados. A sedução com que nos bombardeiam é tal que, se estivermos demasiado sozinhos, facilmente perdemos o sentido da realidade, a clareza interior, e sucumbimos.(140)
  • A santificação é um caminho comunitário, que se deve fazer dois a dois. [...] De igual modo, há muitos casais santos, onde cada cônjuge foi um instrumento para a santificação do outro. Viver e trabalhar com outros é, sem dúvida, um caminho de crescimento espiritual. São João da Cruz dizia a um discípulo: estás a viver com outros para que te trabalhem e exercitem na virtude. (141)
  • A comunidade é chamada a criar aquele espaço teologal onde se pode experimentar a presença mística do Senhor ressuscitado. Partilhar a Palavra e celebrar juntos a Eucaristia torna-nos mais irmãos e vai-nos transformando pouco a pouco em comunidade santa e missionária.(142)
  • A vida comunitária, na família, na paróquia, na comunidade religiosa ou em qualquer outra, compõe-se de tantos pequenos detalhes diários. Assim acontecia na comunidade santa formada por Jesus, Maria e José, onde se refletiu de forma paradigmática a beleza da comunhão trinitária. E o mesmo sucedia na vida comunitária que Jesus transcorreu com os seus discípulos e o povo simples.(143)
  • Lembremo-nos como Jesus convidava os seus discípulos a prestarem atenção aos detalhes:
o pequeno detalhe do vinho que estava a acabar numa festa;
o pequeno detalhe duma ovelha que faltava;
o pequeno detalhe da viúva que ofereceu as duas moedinhas que tinha;
o pequeno detalhe de ter azeite de reserva para as lâmpadas, caso o noivo se demore;
o pequeno detalhe de pedir aos discípulos que vissem quantos pães tinham;
o pequeno detalhe de ter a fogueira acesa e um peixe na grelha enquanto esperava os discípulos ao amanhecer. (144)
  • A comunidade, que guarda os pequenos detalhes do amor e na qual os membros cuidam uns dos outros e formam um espaço aberto e evangelizador, é lugar da presença do Ressuscitado que a vai santificando segundo o projeto do Pai. Sucede às vezes, no meio destes pequenos detalhes, que o Senhor, por um dom do seu amor, nos presenteie com consoladoras experiências de Deus.(145)

A santificação acontece nos detalhes, no ser humano; o pecado vai de contra à humanidade, pois fere, deforma, mata. Como diz uma música do Pe. Fabio de Melo "Quanto mais fores humano, mais serás divino"; ser misericordioso (lembremos do Ano da Misericórdia). Lembremos dos detalhes, à luz do evangelho.


"Quem não pode fazer grandes coisas, faça ao menos o que estiver na medida de suas forças; certamente não ficará sem recompensa (Santo Antônio dos Pobres)."




Paz e bem!
Sandra Regina Oliveira OFS

31/10/2018

Ouvir, fazer-se próximo, testemunhar

Documento Final do Sínodo na mão de uma auditora
Foto: Vatican Media

Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano - Gostaria de dizer aos jovens, em nome de todos nós, adultos: desculpai, se muitas vezes não vos escutamos; se, em vez de vos abrir o coração, vos enchemos os ouvidos”: disse o Papa Francisco na homilia da missa na manhã deste XXX Domingo do Tempo Comum, celebrada na Basílica de São Pedro, no encerramento do Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens. Cerca de sete mil pessoas participaram da celebração.

Na homilia, o Pontífice concentrou-se no Evangelho do dia, que nos traz o episódio da cura do cego Bartimeu feita por Jesus, do qual em sua reflexão propôs algumas indicações aos padres sinodais e aos jovens para o caminho de fé da Igreja.

Três passos fundamentais no caminho da fé


Bartimeu é o último que segue Jesus ao longo do caminho: “de mendigo na margem da estrada para Jericó, torna-se discípulo que vai juntamente com os outros para Jerusalém. Também nós caminhamos juntos, ‘fizemos sínodo’ e agora este Evangelho corrobora três passos fundamentais no caminho da fé”: escutar, fazer-se próximo e testemunhar, apontou o Santo Padre.

Escutar


O primeiro passo para ajudar o caminho da fé: escutar. É o apostolado do ouvido: escutar, antes de falar”, ressaltou. Referindo à atitude de muitos que estavam com Jesus, que repreenderam Bartimeu para que estivesse calado, disse que estes “seguiam Jesus, mas tinham em mente os seus projetos”, e que este é um risco do qual sempre devemos nos precaver.

Ao contrário, para Jesus, o grito de quem pede ajuda não é um transtorno que estorva o caminho, mas uma questão vital. Como é importante, para nós, escutar a vida! Os filhos do Pai celeste prestam ouvidos aos irmãos: não às críticas inúteis, mas às necessidades do próximo. Ouvir com amor, com paciência, como Deus faz conosco, com as nossas orações muitas vezes repetitivas. Deus nunca Se cansa, sempre Se alegra quando O procuramos. Peçamos, também nós, a graça dum coração dócil a escutar, exortou Francisco.

Dirigindo-se aos jovens, o Santo Padre disse com veemência:

Como Igreja de Jesus, desejamos colocar-nos amorosamente à vossa escuta, certos de duas coisas: que a vossa vida é preciosa para Deus, porque Deus é jovem e ama os jovens; e que, também para nós, a vossa vida é preciosa, mais ainda necessária para se avançar.

Fazer-se próximo

Depois da escuta, o Papa apontou um segundo passo para acompanhar o caminho da fé: fazer-se próximo.

Vejamos Jesus, disse, “que não delega em ninguém da ‘grande multidão’ que O seguia, mas encontra Ele pessoalmente Bartimeu. Diz-lhe: ‘Que queres que Eu faça por ti?’. (...) É assim que Deus procede, envolvendo-Se pessoalmente com um amor de predileção por cada um. Na sua maneira de proceder, ressalta já a sua mensagem: assim a fé germina na vida”. A fé passa para a vida.

Quando a fé se concentra apenas em formulações doutrinárias, arrisca-se a falar apenas à cabeça, sem tocar o coração. E quando se concentra apenas na ação, corre o risco de tornar-se moralismo e reduzir-se ao social. Ao contrário, a fé é vida: é viver o amor de Deus que mudou a nossa existência. Não podemos ser doutrinaristas ou ativistas; somos chamados a levar para a frente a obra de Deus segundo o modo de Deus, na proximidade: unidos intimamente a Ele, em comunhão entre nós, próximo dos irmãos. Proximidade: aqui está o segredo para transmitir, não algum aspeto secundário, mas o coração da fé.

Francisco prosseguiu fazendo uma advertência: “Sempre existe aquela tentação que reaparece tantas vezes na Escritura: lavar as mãos, desinteressar-se. É o que faz a multidão no Evangelho de hoje, é o que fez Caim com Abel, é o que fará Pilatos com Jesus: lavar as mãos. Nós, pelo contrário, queremos imitar Jesus e, como Ele, meter as mãos na massa, sujá-las. Ele, o caminho (cf. Jo 14, 6), por Bartimeu deteve-Se ao longo da estrada; Ele, a luz do mundo (cf. Jo 9, 5), inclinou-Se sobre um cego”.

Reconhecemos que o Senhor sujou as mãos por cada um de nós e, fixando a Cruz, “recomecemos de lá, da lembrança de Deus que Se fez meu próximo no pecado e na morte. Fez-Se meu próximo: tudo começa de lá”, observou o Papa. “E, quando por amor d’Ele também nós nos fazemos próximo, tornamo-nos portadores de vida nova: não mestres de todos, não especialistas do sagrado, mas testemunhas do amor que salva.”


Testemunhar

Testemunhar é o terceiro passo”, frisou o Santo Padre. “Não é cristão esperar que os irmãos inquietos batam às nossas portas; somos nós que devemos ir ter com eles, não lhes levando a nós mesmos, mas Jesus. Ele manda-nos, como aqueles discípulos, para encorajar e levantar em seu nome. Manda-nos dizer a cada um: ‘Deus pede para te deixares amar por Ele’.”

Quantas vezes – continuou Francisco –, em vez desta mensagem libertadora de salvação, nos levamos a nós mesmos, as nossas ‘receitas’, as nossas ‘etiquetas’ na Igreja! Quantas vezes, em vez de fazer nossas as palavras do Senhor, despachamos como palavra d’Ele as nossas ideias! Quantas vezes as pessoas sentem mais o peso das nossas instituições que a presença amiga de Jesus! Então aparecemos como uma ONG, uma organização parestatal, e não como a comunidade dos redimidos que vivem a alegria do Senhor.



Ouvir, fazer-se próximo, testemunhar.

A fé é questão de encontro, não de teoria. No encontro, Jesus passa; no encontro, palpita o coração da Igreja. Então serão eficazes, não as nossas homilias, mas o testemunho da nossa vida.”


E a todos vós que participastes neste ‘caminhar juntos’, concluiu Francisco, “digo obrigado pelo vosso testemunho. Trabalhamos em comunhão e com ousadia, com o desejo de servir a Deus e ao seu povo. Que o Senhor abençoe os nossos passos, para podermos escutar os jovens, fazer-nos próximo e testemunhar-lhes a alegria da nossa vida: Jesus.







SÍNODO
DOCUMENTO APROVADO. FRANCISCO AGRADECE AOS JOVENS PELO BARULHO


Silvonei José – Cidade do Vaticano - A Igreja está vivendo um momento “difícil”, é “perseguida com acusações contínuas” e, portanto, é o momento de defendê-la, todos juntos. Este o apelo do Papa Francisco na conclusão do Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens no início da noite deste sábado, (27/10), no Vaticano.

Durante quase um mês a Assembleia sinodal refletiu questões delicadas que dizem respeito às novas gerações. O clima da sala do Sínodo neste sábado foi muito positivo e o Papa foi frequentemente interrompido pelos aplauso durante as suas palavras improvisadas. “Mas tudo isso – disse – não pode deixar de lado o momento complicado que se vive, entre acusações externas e internas”.

Momento difícil


É um momento difícil porque o acusador – disse o Papa se referindo ao diabo através de nós ataca a Mãe e a Mãe não se toca”, sublinhou referindo-se à Igreja, acrescentando: “Todos nós devemos defendê-la”. As acusações contra a Igreja se tornam “perseguição”, como acontece com os cristãos do Oriente, mas “há outro tipo de perseguição, com acusações contínuas para sujar a Igreja. A Igreja não deve ser sujada, nós filhos somos todos sujos”, os filhos são pecadores”, “mas a Mãe não, devemos defendê-la, todos, e por isso eu pedi para todos rezarem o Terço “neste mês de outubro, todos os dias, pela unidade da Igreja.

Em seguida o Papa Francisco falou sobre os trabalhos do Sínodo: “Nós aprovamos o documento, agora o Espírito nos dá o documento para que trabalhe no nosso coração. Nós somos os destinatários do documento, e ele ajudará muitos outros, mas os primeiros destinatários somos nós”.


Sínodo não é um Parlamento

O Santo Padre reiterou ainda que “o Sínodo não é um Parlamento, mas um espaço protegido” porque é o Espírito Santo quem opera. Depois indicou aos padres sinodais qual deve ser o caminho a ser seguido a partir deste momento, porque não é suficiente um pedaço de papel. “O resultado do Sínodo não é um documento, eu disse isso no início. Estamos cheios de documentos”. “E então o documento aprovado hoje vai dar frutos se for meditado e acompanhado pela oração”.

O Pontífice agradeceu ainda sinceramente todos pelo trabalho feito neste mês de outubro. Começando precisamente pelos jovens que participaram do Sínodo dos bispos como ouvintes: “Eles trouxeram a sua música para esta sala – disse. Música é uma palavra diplomática para dizer barulho”, disse Francisco sorrindo.

Em seguida, Francisco agradeceu o secretário geral do Sínodo do Bispos, cardeal Lorenzo Baldisseri e os subsecretários pelo seu trabalho. “Eu disse que eles tinham deixado a pele no documento preparatório, agora eu digo que eles deixaram os ossos”, foi a brincadeira final para dizer obrigado a todos.




Via: Vatican News
Grifos: Sandra Regina Oliveira OFS - Pascom


















20/08/2018

Mês Vocacional: Semana da Vida Consagrada - Especial Envio ao Carmelo de Lorrany Bacellar

Foto: Tatyane Chaves - Time de Fotografia - Pastoral da Comunicação



Nada mais propício para nossa paróquia do que iniciar a semana da vida consagrada com um testemunho próprio: Neste dia 19/08 entrou para o Carmelo de Santa Teresa a jovem Lorrany Bacellar, paroquiana, catequista de crisma.

A missa de envio se deu no dia 11/08 (foto) e foi com muita contemplação e emoção, com presença da família e amigos. Músicas em latim, coral de amigos (Dalmir, Thamyris, Valter, Maria Isabel, Matheus, Maurício e Marcus), Salmo da liturgia do 19º domingo cantada pelo jovem tenor Maurício.

A homilia do nosso pároco, Pe. Tiago Luciano, muito bem colocada: tratou da liturgia e em seguida agregou esta a vocação de nossa jovem, comparando de forma especial o refrão do salmo: "Provai e vede quão suave é o Senhor". Partilhou um breve testemunho, e falou para a Lorrany que ela utilizasse todos os dons concedidos por Deus no Carmelo.


Foi separado um breve especial com 3 perguntas e respostas da nossa vocacionada. Confira:



1) Como você se deu conta do seu chamado para a vida consagrada?

R: Comecei a perceber enquanto fazia o discernimento para o matrimônio e para uma nova comunidade. Eu já namorava há 1 ano e não me sentia atraída ao matrimônio, estava nessa comunidade mas sentia o desejo de me doar mais, como se ainda faltasse algo. Meu coração sempre acelerava quando eu via uma religiosa e nascia um desejo de viver assim, fui vendo que todos os meus pensamentos, as minhas vontades também se voltavam a isso, então decidi iniciar um discernimento.


2) ​Sempre soube que seria na espiritualidade carmelita?

R: Não e sim. Desde o início me senti atraída pela vida contemplativa, algo em que eu pudesse me oferecer e rezar pelos outros.
Quando me converti conheci o Carmelo através de Santa Teresinha, então fui me encantando e essa realidade falou muito ao meu coração, mas dado momento fiquei em dúvida com a espiritualidade beneditina (que também é lindíssima), fiz acompanhamento por 1 ano e dentro desse 1 ano uma experiência de 3 meses na vida monástica. Nesse tempo de experiência fui percebendo que havia chegado perto, mas que ainda não era ali o meu lugar e fui percebendo que o que eu procurava se encontrava na espiritualidade carmelitana.
Tudo foi decidido com muita oração, com auxílio do meu diretor espiritual, acompanhamento com a Madre, para que eu pudesse entender a vontade de Deus para a minha vida.



3) Sabemos que a vocação se faz no sim e no dia-a-dia, mas você teria algo para nos dizer sobre a clausura?

R: Sobre isso tenho uma frase de Santa Elisabeth da Trindade, que diz: “​As vezes imaginam que no claustro não se sabe mais amar, mas é justamente o contrário! Da minha parte, nunca tive mais afeto do que agora; parece-me que meu coração se dilatou”.​ Por vezes acreditamos que esse “afastamento do mundo” desumaniza a jovem que se decide viver a vida na clausura, mas muito pelo contrário. As grades não são capazes de afastar os corações, antes externam que pertencemos primeiramente a um Alguém, e através dele amaremos toda a humanidade. É a vocação de Ester, que deixa o seu povo, para interceder por ele junto do Rei.



A missa de nossa jovem se deu no dia de Santa Clara de Assis. Sendo assim: “Devo florir onde o Senhor me plantar” (Sta. Clara).


Floresça, mais nova flor do Carmelo!




Paz e bem!
Sandra Oliveira (Time de Redação - Pastoral da Comunicação)

14/08/2018

Mês Vocacional: Semana da Família

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Imagem: Google



Nesta segunda semana de agosto celebramos a semana da família.

E como estamos no ano do leigo, é de suma importância dar uma visão mais ampla a missão da família e de como ela deve ser protagonista da evangelização nos ambientes em que frequenta, a começar pelo lar, a sua igreja doméstica.

Vivemos num mundo onde o certo parece estar errado e o errado ser o certo. Os desafios são muitos: o acesso à saúde é precário, a educação de base tem decaído, a consciência política está cada vez mais confusa. Quantas são as dificuldades de se viver num mundo onde há cada vez mais informação e menos formação.

Hoje, dia 14/08, celebramos a memória de São Maximiliano Maria Kolbe, um santo de nosso tempo. Embora ele seja um santo religioso presbítero, ele deu sua vida por um pai de família no campo de concentração em "Auschwitz". Ora, um prisioneiro havia fugido na ocasião e a penalidade seria 10 mortos por conta do fugitivo para ninguém mais o fizesse. O décimo a ser escolhido foi um pai de família que implorou para que não morresse pois ele ainda queria rever a família. O frei Kolbe então, sensibilizado pela situação, se ofereceu para ficar em seu lugar. O frade entendeu que aquele pai ainda tinha uma missão a cumprir - junto daquela família - e que sua era se doar naquele campo de concentração.

Vocação familiar, matrimonial, é vocação e missão. Não deve ser desmerecida em detrimento de outras vocações. A família é berço da vocação pois sem ela não haveria as demais, tanto religiosas quanto seculares (médicos, dentistas, professores, etc). É necessário valorizar cada ação, individual ou conjunta, em prol de uma sociedade mais justa, sem alienações ou julgamentos que segregam ao invés de fazer comunhão.


A seguir, uma breve reflexão:

“Devemos dar graças pela maioria das pessoas valorizar as relações familiares que querem permanecer no tempo e garantem o respeito pelo outro. Por isso, aprecia-se que a Igreja ofereça espaços de apoio e aconselhamento sobre questões relacionadas com o crescimento do amor, a superação dos conflitos e a educação dos filhos. Muitos estimam a força da graça que experimentam na Reconciliação sacramental e na Eucaristia, que lhes permite enfrentar os desafios do matrimónio e da família. Nalguns países, especialmente em várias partes da África, o secularismo não conseguiu enfraquecer alguns valores tradicionais e, em cada matrimónio, gera-se uma forte união entre duas famílias alargadas, onde se conserva ainda um sistema bem definido de gestão de conflitos e dificuldades. No mundo actual, aprecia-se também o testemunho dos cônjuges que não se limitam a perdurar no tempo, mas continuam a sustentar um projecto comum e conservam o afecto. Isto abre a porta a uma pastoral positiva, acolhedora, que torna possível um aprofundamento gradual das exigências do Evangelho. No entanto, muitas vezes agimos na defensiva e gastámos as energias pastorais multiplicando os ataques ao mundo decadente, com pouca capacidade de propor e indicar caminhos de felicidade. Muitos não sentem a mensagem da Igreja sobre o matrimónio e a família como um reflexo claro da pregação e das atitudes de Jesus, o qual, ao mesmo tempo que propunha um ideal exigente, não perdia jamais a proximidade compassiva às pessoas frágeis como a samaritana ou a mulher adúltera.” (Amoris Laetitia 38)



Paz e bem!
Sandra Oliveira (Pascom)

31/07/2018

Dia 2 de Agosto: Nossa Senhora dos Anjos - Perdão de Assis



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No calendário litúrgico franciscano, o dia 2 de agosto é dedicado à Nossa Senhora dos Anjos, também conhecida como Nossa Senhora da Porciúncula, considerada uma importante data para toda a família franciscana.



Segundo o testemunho de Bartolomeu de Pisa, a origem da Indulgência da Porciúncula deu-se assim:

Uma noite, do ano do Senhor de 1216, Francisco estava compenetrado na oração e na contemplação na igrejinha da Porciúncula, perto de Assis, quando, repentinamente, a igrejinha ficou repleta de uma vivíssima luz e Francisco viu sobre o altar o Cristo e à sua direita a sua Mãe Santíssima, circundados de uma multidão de anjos. Francisco, em silêncio e com a face por terra, adorou a seu Senhor.

Perguntaram-lhe, então, o que ele desejava para a salvação das almas. A resposta de Francisco foi imediata: “Santíssimo Pai, mesmo que eu seja um mísero pecador, te peço, que, a todos quantos arrependidos e confessados, virão a visitar esta igreja, lhes conceda amplo e generoso perdão, com uma completa remissão de todas as culpas”.

O Senhor lhe disse: “Ó Irmão Francisco, aquilo que pedes é grande, de coisas maiores és digno e coisas maiores tereis: acolho, portanto, o teu pedido, mas com a condição de que tu peças esta indulgência, da parte minha, ao meu Vigário na terra (Papa)”. E imediatamente, Francisco se apresentou ao Pontífice Honório III que, naqueles dias encontrava-se em Perusia e com candura lhe narrou a visão que teve. O Papa o escutou com atenção e, depois de alguns esclarecimentos, deu a sua aprovação e disse: “Por quanto anos queres esta indulgência”? Francisco, destacadamente respondeu-lhe: “Pai santo, não peço por anos, mas por almas”.

E feliz, se dirigiu à porta, mas o Pontífice o reconvocou: “Como, não queres nenhum documento”? E Francisco respondeu-lhe: “Santo Pai, de Deus, Ele cuidará de manifestar a obra sua; eu não tenho necessidade de algum documento. Esta carta deve ser a Santíssima Virgem Maria, Cristo o Escrivão e os Anjos as testemunhas”.

E poucos dias mais tarde, junto aos Bispos da Úmbria, ao povo reunido na Porciúncula, Francisco anunciou a indulgência plenária e disse entre lágrimas: “Irmãos meus, quero mandar-vos todos ao paraíso!


No início o perdão era concedido somente na igreja da Porciúncula. Com o tempo estendeu-se a todo templo da Ordem Franciscana e hoje ele pode ser concedido também igrejas paroquiais.


Para receber a indulgência:
  • Visitar uma igreja franciscana (ou uma igreja paroquial), rezar o Pai-nosso e o Credo
  • Confessado(a) (8 dias antes ou 8 dias depois)
  • Receber a eucaristia
  • Fazer oração na intenção do Papa. A indulgência só pode ser lucrada uma vez para si, ou para os defuntos.
Os que visitarem a Igreja da Porciúncula, em Assis, na Itália, podem receber a mesma graça durante todo o ano, conforme um especial decreto da Penitenciária Apostólica datado em 15 de julho 1988 (Portiuncolae sacrae aedes).

Orações:

“Augusta Rainha dos céus e soberana Senhora dos Anjos,
Que recebeste de Deus o poder e a missão
De esmagar a cabeça de Satanás,
Nós vos pedimos humildemente:
Enviai as legiões celestes para que, sob
Vossas ordens persigam os demônio;
Combatam-nos em toda a parte, reprimam
A sua audácia e os precipitem no abismo.
Quem é com Deus?
Santos, anjos e arcanjos,
Protegei-nos, defendei-nos!
Ó boa e terna Mãe, vós sereis sempre
O nosso amor e a nossa esperança!
Ó divina mãe, enviai os vossos anjos,
Para que nos defendam e afastem de nós
O cruel inimigo!

Assim seja!” (Papa Leão XIII).




A Nossa Senhora dos Anjos

Ó Nossa Senhora dos Anjos, na pequena Igreja da Porciúncula,
São Francisco recebeu as vossas bênçãos generosas juntamente com sua Ordem.
Ele depositara na vossa presença materna uma grande confiança e devoção, sendo atendido em seus pedidos. Continuai a dispensar os vossos favores sobre nós e sobre nossas necessidades particulares.
Nós vos suplicamos, dai-nos a graça da penitência dos pecados, a correção de nossas más inclinações e fortalecimento nos momentos de fraqueza. Quantos recusam a salvação e preferem caminhar nas trevas do erro! Tudo é possível para aquele que crer, para aquele que se arrepender!
Vós, ó Mãe, manifestastes a São Francisco o grande desejo de reconciliar os pecadores com Jesus, que se entregou em uma cruz para nos salvar. Rogai por nós, agora e na hora de nossa morte. Por isso, com todos os anjos do céu, vos saudamos: Ave Maria …



Nesse ano de 2018, rezemos também pela vida conforme comunicado da CNBB: Comissão para a Vida e a Família


Paz e Bem!


Sandra Oliveira (Pascom) / Foto: Google




25/07/2018

Papa: Atribuir aos leigos e em particular às mulheres responsabilidades cada vez maiores.

Foto: Servos da Pobreza


Cidade do Vaticano - “A Igreja não quer ‘clericalizar’ os leigos”, pelo contrário, o Papa Francisco quer atribuir aos leigos, e em particular às mulheres leigas, papéis de responsabilidade cada vez maior. Foi o que sublinhou o cardeal Kevin Farrell, prefeito do Dicastério para os Leigos, Família e Vida, em entrevista concedida à revista “Intercom”, publicada pela Conferência Episcopal da Irlanda.

Respondendo às perguntas do diretor Chris Hyden, na edição de julho e agosto – em vista da reunião mundial de famílias celebrada em Dublin – o cardeal, ele próprio nascido na capital irlandesa – destaca como “historicamente os leigos” sempre “desempenharam um papel secundário na Igreja”. E como “infelizmente em alguns países ainda é assim”, seu dicastério procura “dar importância aos leigos”, visto que “se trata da maioria das pessoas que estão na Igreja”.

Protagonistas leigos


O Papa Francisco – confessa o cardeal – “disse-me abertamente de querer no Vaticano um dicastério que seja equivalente a todas as outras Congregações (para os bispos, para o clero, para os religiosos etc.)” em que os leigos sejam os protagonistas. “E com leigos ele não quer dizer pessoas que pertençam a movimentos eclesiais” – precisa o cardeal – mas “pessoas que vão à igreja”.

A Igreja não quer “clericalizar” os leigos


Neste contexto o cardeal esclarece que “a Igreja não quer” clericalizar “os leigos”, na consciência de que “há países em que os leigos levam em frente a Igreja”. E cita a este propósito a própria experiência como bispo de Dallas, para explicar que existem “paróquias com um orçamento anual de vinte milhões de dólares” e que “nenhum sacerdote jamais conseguiria administrar uma paróquia deste tamanho sem a ajuda de leigos competentes”.

Trazer as pessoas de volta aos valores autênticos e acima de tudo ao da vida familiar


Também em relação à família, o purpurado mostra ideias claras: menos clérigos, mais leigos. Recentemente, conta ele, “fui a um país falar sobre a Amoris laetitia e haviam organizado um encontro com 600/700 pessoas: 80% eram padres. Nunca haviam vivido a experiência. Quiçá conheçam a teologia moral, a teologia dogmática, em teoria. Mas daqui pra colocar em prática todos os dias … “.

Isso não significa, explica Farrell, que o Dicastério não tenha uma profunda consciência da “fragmentação da família” na sociedade contemporânea. Basta pensar, observa, que precisamente “por isso o Papa Francisco escolheu dedicar dois Sínodos” à família. Ademais, o modo como ela funciona “é o modo como irão a nossa cultura e a nossa sociedade, porque tudo está ligado à unidade de base da família. E o que experimentamos em relação a elas é o que projetamos na vida e na comunidade”.

Em suma, reconhece o prefeito, “há uma grande fragmentação nas famílias, mas ao invés concentrar-se em coisas negativas” – visto que “80 por cento do nosso trabalho diz respeito à situações de ruptura” – seria desejável conseguir “trazer de volta as pessoas aos valores autênticos e, sobretudo, àqueles da vida familiar ”.

Dificuldades econômicas incidem na vivência familiar


O cardeal não esconde as dificuldades de muitas famílias fragmentadas, que muitas vezes “são projetadas na família sem necessariamente nascerem da família”. Entre estas, uma das principais é a crise econômica.

Não há vida familiar quando mãe e pai às vezes têm que fazer dois ou três trabalhos cada um: não há tempo para os filhos; não há mais “vizinhança”. Eu me lembro de ter crescido em Dublin nos anos cinquenta. Havia este sentimento de vizinhança, todas as crianças na rua; todo mundo conhecia todo mundo. Eu acho que no atual contexto econômico isso é quase impossível. É uma realidade com a qual a família deve confrontar-se e conviver”.

Papel da mulher na Igreja


Por fim, o Cardeal Farrell fala sobre o papel das mulheres dentro da Igreja, convidando a estudar “cuidadosamente o que Francisco fez em silêncio e nos bastidores. O exemplo mais recente foi quando, pela primeira vez na história da Igreja, nomeou mulheres como consultoras da Congregação para a Doutrina da Fé”.

Trata-se de Linda Ghisoni, subsecretária justamente do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida; de Michelina Tenace, docente de Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana; e de Laetitia Calmeyn, docente de Teologia no Collège des Bernardins de Paris.

E “Francisco – continua o cardeal – fez isso coerentemente: antes de eu chegar dos Estados Unidos da América tivemos uma longa conversa. Conversamos sobre o papel das mulheres nos Estados Unidos e Francisco ficou surpreso ao saber que, entre o pessoal com cargos de direção da minha diocese, havia quinze pessoas, destas apenas três homens.

O cargo de chanceler é ocupado há vinte anos por uma mulher e o tribunal para as causas matrimoniais é formado principalmente por mulheres, todas advogadas canônicas; então, quando cheguei aqui, o Papa me disse não querer sacerdotes como subsecretários do Dicastério. Ele disse: “eu quero leigos. Dou a você dois anos.”

E então ele me deu o nome de duas pessoas que ele achava que deveríamos avaliar. Falei com as duas: uma não aceitou o trabalho, a outra sim. Por isso nomeamos dois subsecretários, posição sempre ocupada anteriormente por sacerdotes que estavam ao menos 20 anos no Vaticano. Essas pessoas nunca haviam trabalhado no Vaticano.

Uma delas, Gabriella Gambino, é pesquisadora em bioética na Universidade Romana de Tor Vergata, uma universidade que é tudo menos conservadora; a outra é a própria Ghisoni, uma mulher extremamente brilhante que ensinou direito canônico, mas que também tem doutorado em teologia. Ela é casada e tem dois filhos adolescentes. Gambino também é casada e tem cinco filhos. Assim Francisco, sem chamar a atenção, gradualmente coloca as mulheres em posições de poder”.

As funções administrativas na Igreja podem ser realizadas por qualquer pessoa


E à pergunta sobre para onde leva tudo isso, o cardeal responde que “há um perigo reconhecido por muitas pessoas, mesmo não de Igreja, em relação ao papel das mulheres: queremos transformá-las em clérigos? – perguntou-se – Não. Elas devem ser pessoas do mundo que vivem no mundo", foi a resposta.

Além disso, nenhuma das mulheres mencionadas que foram nomeadas para o Dicastério e para a Congregação “são membros consagrados de comunidades leigas; eles são mulheres casadas. E passo por passo isso acontecerá em todos os níveis da Igreja se seguirmos o exemplo do Papa Francisco”. Mesmo porque, conclui o cardeal Farrell, o Pontífice “percebe que as funções administrativas na Igreja podem ser desempenhadas por qualquer pessoa”. Eles foram desempenhadas principalmente por padres, mas também podem ser feitas por leigos”.



Grifos: Sandra Oliveira

12/07/2018

Santos da Semana: Pais de Santa Teresinha - Ano do Laicato


Imagem: Internet



São Luís Martin e Santa Zélia Guérin, pais de Santa Teresa de Lisieux, foram o primeiro casal a ser canonizado em uma mesma cerimônia na história da Igreja.

Os santos esposos (...) viveram o serviço cristão na família, construindo dia após dia um ambiente cheio de fé e amor; e, neste clima, germinaram as vocações das filhas, nomeadamente a de Santa Teresinha do Menino Jesus”, disse o Papa Francisco em 18 de outubro de 2015, durante a Missa canonização.

A família, depois de dezenove anos de matrimônio, ante à crise econômica que afligia a França, querendo garantir o bem-estar e o futuro a seus filhos, encontrou a força para deixar a cidade francesa de Alençon e se mudar para Lisieux.

Luís Martin trabalhou como relojoeiro e joalheiro, e Zélia Guérin como pequena empresária de uma oficina de bordado. Junto com suas cinco filhas, deram seu tempo e seu dinheiro a fim de ajudar os mais necessitados.


Luís Martin nasceu em Bordeaux (França) em 1823 e faleceu em Arnières-sur-Iton (França) em 1894. Enquanto Maria Zélia Guérin nasceu em San Saint-Denis-Sarthon (França) em 1831 e faleceu em Alençon (França), em 1877.

Ambos foram pessoas devotas desde muito jovens. Durante sua juventude e antes de se conhecerem, Maria Zélia queria levar uma vida religiosa no mosteiro das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, enquanto Luís Martin sentia o mesmo desejo de dedicar sua vida a Deus e foi para o mosteiro do Grande São Bernardo.

Nenhum dos dois foi aceito, uma vez que Deus tinha outro plano para eles.

Os jovens se conheceram e o entendimento foi tão rápido que se casaram em 13 de julho de 1858, apenas três meses após seu primeiro encontro.

Levaram uma vida matrimonial exemplar: missa diária, oração pessoal e comunitária, confissão frequente, participação na vida paroquial.

De sua união, nasceram nove filhos, quatro dos quais morreram prematuramente.

Entre as cinco filhas que sobreviveram estava Santa Teresinha, a futura santa padroeira das missões, que é uma fonte preciosa para a compreensão da santidade de seus pais: educavam suas filhas para serem boas cristãs e cidadãs honestas.

Quando sua esposa Zélia morreu em 1877, Luís se viu sozinho para seguir adiante com sua família e suas filhas pequenas. Mudou-se para Lisieux, onde morava o irmão de Zélia; deste modo, a tia Celina pôde cuidar das filhas.

Entre 1882 e 1887, Luís acompanhou três de suas filhas para o Carmelo. O maior sacrifício foi se separar de Teresa, que entrou no Carmelo aos 15 anos e iniciaria seu caminho para a santidade.



Grifos: Sandra Oliveira

04/07/2018

Santa da Semana: Isabel de Portugal - Ano do Laicato

Viúva da Terceira Ordem (1271-1336).
Canonizada por Urbano VIII no dia 25 de maio de 1625


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Isabel nasceu na Espanha, em 1271. Entre seus antepassados estão muitos santos, reis e imperadores. Era filha de Pedro II, rei de Aragão, que, no entanto, era um jovem príncipe quando ela nasceu. Sem querer ocupar-se com a educação da filha, o monarca determinou que fosse cuidada pelo avô, Tiago I, que se convertera ao cristianismo e levava uma vida voltada para a fé. Sorte da pequena futura rainha, que recebeu, então, uma formação perfeita e digna no seguimento de Cristo.

Tinha apenas doze anos quando foi pedida em casamento por três príncipes, como nos contos de fadas. Seu pai escolheu o herdeiro do trono de Portugal, dom Dinis. Esse casamento significou para Isabel uma coroa de rainha e uma cruz de martírio, que carregou com humildade e galhardia nos anos seguintes de sua vida.

Isabel é tida como uma das rainhas mais belas das cortes espanhola e portuguesa; além disso, possuía uma forte e doce personalidade, era também muito inteligente, culta e diplomata. Ela deu dois filhos ao rei: Constância, que seria no futuro rainha de Castela, e Afonso, herdeiro do trono de Portugal. Mas eram incontáveis as aventuras extraconjugais do rei, tão conhecidas e comentadas que humilhavam profundamente a bondosa rainha perante o mundo inteiro.

Ela nunca se manifestava sobre a situação, de nada reclamava e a tudo perdoava, mantendo-se fiel ao casamento em Deus, que fizera. Criou os filhos, inclusive os do rei fora do casamento, dentro dos sinceros preceitos cristãos.

Perdeu cedo a filha e o genro, criando ela mesma o neto, também um futuro monarca. Não bastassem essas amarguras familiares, foi vítima das desavenças políticas do marido com parentes e, sobretudo, do comportamento de seu filho Afonso, que tinha uma personalidade combativa. Depois, ainda foi caluniada por um cortesão que dela não conseguiu se aproximar. A rainha muito sofreu e muito lutou até provar inocência de forma incontestável.

Sua atuação nas disputas internas das cortes de Portugal e Espanha, nos idos dos séculos XIII e XIV, está contida na história dessas cortes como a única voz a pregar a concórdia e conseguir a pacificação entre tantos egos desejosos de poder. Ao mesmo tempo em que ocupava o seu tempo ajudando a amenizar as desgraças do povo pobre e as dores dos enfermos abandonados, com a caridade da sua esmola e sua piedade cristã.

Ergueu o Mosteiro de Santa Clara de Coimbra para as jovens piedosas da corte, o Mosteiro cisterciense de Almoste e o santuário do Espírito Santo em Alenquer. Também fundou, em Santarém, o Hospital dos Inocentes, para crianças cujas mães, por algum motivo, desejavam abandonar. Com suas posses sustentava asilos e creches, hospitais para velhos e doentes, tratando pessoalmente dos leprosos. Sem dúvida foi um perfeito símbolo de paz, do seu tempo.

Quando o marido morreu, em 1335, Isabel recolheu-se no mosteiro das clarissas de Coimbra, onde ingressou na Ordem Terceira Franciscana. Antes, porém, abdicou de seu título de nobreza, indo depositar a coroa real no altar de São Tiago de Compostela. Doou toda a sua imensa fortuna pessoal para as suas obras de caridade. Viveu o resto da vida em pobreza voluntária, na oração, piedade e mortificação, atendendo os pobres e doentes, marginalizados.

A rainha Isabel de Portugal morreu, em Estremoz, no dia 4 de julho de 1336. Venerada como santa, foi sepultada no Mosteiro de Coimbra e canonizada pelo papa Urbano VIII em 1665. Santa Isabel de Portugal foi declarada padroeira deste país, sendo invocada pelos portugueses como “a rainha santa da concórdia e da paz”.



Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, edizioni Porziuncola - via Franciscanos
Grifos: Sandra Oliveira (Pastoral da Comunicação)



19/06/2018

Santo Antônio: Dom de Línguas

Língua de Santo Antônio no relicário

Nosso padroeiro foi canonizado no ano seguinte a sua morte devido a incontáveis milagres. Trazemos aqui dois milagres que estão intimamente ligados a Santo Antônio, exímio pregador.



Pentecostes (Dom de Línguas)

Sobre a solenidade da Ressurreição, a pedido do Papa, Frei Antônio fez uma pregação onde cada um dos que estavam presentes ouviram claramente o santo pregar em sua língua nativa:

"Encontrando-se o homem de Deus na Cúria Romana ocupado em assuntos referentes à Ordem, aconteceu reunir-se lá uma enorme multidão de gente de ambos os sexos e de diferentes línguas, no intuito de ganharem as indulgências das solenidades pascais.
Por incumbência do Sumo Pontífice, estava ele a pregar solenemente a esses peregrinos, e eis que a graça do Espírito Santo, tal como acontecera aos Apóstolos no dia do Pentecostes, realizou a maravilha de lhe tornar as palavras tão sublimes e encantadoras, que cada um dos ouvintes o escutou perfeitamente e compreendeu com toda a clareza na linguagem da terra onde nascera e aprendera a falar. Assim o confirmaram mais tarde como absolutamente certo muitos desses ouvintes. (Legenda de Santo Antônio - Benignitas)" 



Língua Incorrupta

Durante o translado sua tumba fora aberta e encontraram sua língua incorrupta. São Boaventura, presente no ato, disse que o milagre era prova de que sua pregação era inspirada por Deus:

"Nessa altura, uma personalidade tão venerável como o senhor Boaventura, doutor magnífico de sagrada teologia e à data Ministro Geral da Ordem, e que mais tarde viria a ser cardeal-bispo de Albano, estando presente na festa de trasladação, com todo o respeito pegou na língua do Santo em suas mãos, e comovido até às lágrimas, na presença de todos os circunstantes, dirigiu-se a essa relíquia com toda a devoção nestes termos: «Ó língua bendita, que sempre glorificaste o Senhor e levaste os outros a glorificá-lo, agora nos é permitido avaliar como foram grandes os teus méritos perante Deus!»  E beijando-a com ternura e piedade, determinou que fosse conservada à parte, com todas as honras, como era justo e conveniente. (Legenda de Santo Antônio - Benignitas)"



Que esses fatos nos façam refletir do quanto temos ainda a percorrer, e o quanto ainda precisamos nos converter ao evangelho. Na verdade, o que precisa ser feito não é colocar a imagem do santo de castigo para conseguir o que queremos e porquê queremos mas permitir que o próprio Jesus molde nossa maneira de pensar, viver e agir para que sejamos de acordo com a vontade do Pai com a inspiração e força do Espírito Santo.


Santo Antônio, rogai por nós!



Paz e bem!
Sandra Oliveira (Pastoral da Comunicação)

12/06/2018

Santo Antônio: Um de seus sermões

Imagem: Internet


O tentador aproximou-se de Jesus e disse-lhe: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães” (Mt 4,3). O diabo em circunstâncias semelhantes procede de maneira semelhante. Com a mesma tática com que tentou Adão no paraíso terrestre, tentou também a Cristo no deserto e continua tentando qualquer cristão neste mundo. Tentou o primeiro Adão pela gula, pela vanglória e pela avareza e, tentando-o, venceu-o. Ao segundo Adão, isto é, Cristo, ele tentou de maneira semelhante, mas no foi vencido no seu intento porque quem ele tentava então não era somente um homem, mas era também Deus! Nós, que somos participantes de ambos, do homem segundo a carne e de Deus segundo o espírito, despojemo-nos do homem velho com suas obras que são a gula, a vanglória e a avareza e vistamo-nos do homem novo, renovados pela confissão, para frearmos, com o jejum, o desenfreado ardor da gula, para abatermos, com a humildade da confissão, a altura da vanglória, para pisarmos, com a contrição do coração, o denso lodo da avareza. “Bem aventurados, diz o Senhor, os pobres em espírito”, isto é, os que têm o espírito dolorido e o coração contrito, “porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,3).

Procure ainda observar que, assim como o diabo tentou de gula o Senhor no deserto, de vanglória no templo, de avareza no cimo do monte, assim também faz conosco todos os dias: tenta-nos de gula no deserto do jejum, de vanglória no templo da oração e do ofício, de tantas formas de avareza no monte dos nossos cargos. Enquanto fazemos jejum, ele nos sugere a gula, com a qual pecamos em cinco maneiras, como diz o verso: “antes do tempo, abundantemente, demais, com voracidade e com delicadeza exagerada” (São Gregório). Antes do Tempo, isto é, quando se come antes da hora; Abundantemente, quando se excita a gulosice da língua e se quer aumentar um apetite fraco com temperos, especiarias e toda espécie de comida; Demais, quando se come mais comida do que o corpo necessita; pois dizem alguns gulosos: temos que fazer jejum, então vamos comer para suprir de uma só vez tanto o almoço quanto a janta. Estes são como o bicho-da-seda que não sai da árvore em que está até não devorá-la completamente. O “bruco” (bicho-da-seda) é chamado assim porque é feito quase só de boca e simboliza muito bem os gulosos que são tudo, gula e barriga, e assaltam o prato como se fosse uma fortaleza e não o deixam se antes não o devoraram todo: ou se estoura a barriga ou se esvazia o prato! Com voracidade quando o homem se joga sobre qualquer comida como se fosse assaltar uma fortaleza, abre os braços, estica as mãos, come com todo seu corpo; à mesa é como um cão que, na comida, não quer ter rivais. Com delicadeza exagerada quando se procura só comidas deliciosas e preparadas com grande esmero.

Como se lê no primeiro livro dos Reis, sobre os filhos de Heli, que não queriam aceitar a carne cozida, mas só a crua, para poderem prepará-la com mais temperos e outras iguarias. Semelhantemente, o diabo nos tenta de vanglória no templo. Com efeito, enquanto estamos em oração, enquanto recitamos o ofício e estamos ocupados na pregação, somos assaltados pelo diabo com os dardos da vanglória e, infelizmente, muitas vezes feridos. Existem efetivamente alguns que, enquanto oram e dobram os joelhos e soltam suspiros, querem ser vistos. E há outros que, quando cantam em coro, modulam a voz, fazem falsetes e desejam ser ouvidos. Enfim, há também os que, quando pregam, elevam a voz como trovão, multiplicam as citações, interpretam-nas a seu modo, giram-se pra cá e pra lá e desejam ser louvados. Todos esses mercenários – acreditem-me – “já receberam sua recompensa” (Mt 6,2) e colocaram sua filha no prostíbulo. Diz Moisés no Levítico: “Não profanes a tua filha, fazendo-a prostituir-se” (19,29). Filha minha é a minha obra e eu a prostituo, quer dizer, a coloco no prostíbulo quando a vendo pelo dinheiro da vanglória. Por isso é que o Senhor nos aconselha: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechando tua porta, ora ao teu Pai que está lá no segredo” (Mt 6,6). Tu, quando quiseres rezar ou fazer alguma coisa de bom – e é nisto que consiste o “orar sem cessar” – entra em teu quarto, isto é, no segredo do teu coração, e fecha a porta dos cinco sentidos para não desejar nem ser visto nem ser escutado nem ser louvado. Com efeito, diz Lucas (1,9) que Zacarias entrou no templo do Senhor na hora do incenso. No tempo da oração ‘que se eleva à presença do Senhor como o incenso’ (Salmo 140,2). Tu deves entrar no templo do teu coração e orar ao teu Pai e “o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará” (Mt 6,6). Além disso, do alto dos nossos encargos, da nossa passageira dignidade, somos tentados a cometer muitos pecados de avareza. Não existe só a avareza do dinheiro, mas também aquela do querer ser mais do que os outros. Os avarentos, mais têm mais desejam possuir.

Aqueles que ocupam altos postos, quanto mais sobem mais querem subir e assim acontece que caem com numa queda muito mais ruidosa, já que “os ventos sopram mais nos lugares altos” (Ovídio) e “aos ídolos é que são oferecidos sacrifícios nas alturas” (4 Reis 12,3). Diz Salomão a propósito: “O fogo não diz nunca: basta!” (Prov 30,16). O fogo, quer dizer, a avareza do dinheiro e das honrarias não diz nunca: basta! Mas o que é que diz então? “Mais, mais!” þ Senhor Jesus, tirai, tirai estes dois “mais, mais” dos prelados de vossa Igreja, que se pavoneiam no alto de suas dignidades eclesiásticas e gastam o vosso patrimônio, por Vós conquistado com os tapas, com as flagelações, com as cusparadas, com a cruz, com os cravos, com o vinagre, com o fel e a lança. Nós, portanto, que somos chamados cristãos por causa do nome de Cristo, imploramos todos juntos, com a devoção da alma e ao mesmo Jesus Cristo, e pedimos insistentemente que ele, do espírito de contrição, nos faça chegar ao deserto da confissão, a fim de que, nesta Quaresma, mereçamos receber o perdão de todas as nossas maldades e, renovados e purificados, nos tornemos dignos de gozar da alegria da sua santa Ressurreição e ser colocados na glória da felicidade eterna. No-lo conceda Aquele a quem se deve toda honra e toda glória por todos os séculos dos séculos. Amém.

04/06/2018

Santo Antônio: Devoção às terças feiras

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Imagem: Agenda LX

Santo Antônio foi sepultado no dia 17 de junho, terça-feira. Teve então início o costume de lembrá-lo nesse dia. Com o decorrer do tempo o costume passou para o esquecimento.

Reapareceu no século XVII, como explicam os Bollandistas num caso de 1616. Um casal de Bolonha não conseguira ter filhos durante vinte e dois anos, por mais que o desejassem. Foi aí que entrou Santo Antônio. Os esposos apelaram para sua intercessão.

O santo apareceu à esposa, mandando-a visitar por nove dias sua imagem na igreja de São Francisco na dita cidade. Ela conseguiu engravidar, mas deu à luz uma criança deformada. Cheia de confiança levou o filhinho à igreja e o colocou sobre o altar de Santo António.

Tocada apenas a pedra do altar, desapareceu a deformidade. Após isso, espalhou-se a notícia e a devoção das nove terças-feiras, acrescida com o tempo de mais quatro dias, formando o número treze, em lembrança do dia da morte do santo.

Há ainda muitas igrejas, nas quais, às terças-feiras, o movimento de fiéis é considerável. Horários especiais de celebrações eucarísticas, muita gente na fila do confessionário e, ao fim da missa, a bênção de Santo António, com aspersão dos fiéis. Algumas também distribuem pãezinhos de Santo Antônio.

Santo Antonio, Rogai por Nós!



Do livro “Santo Antônio Popular”, de Frei Ildefonso Silveira
Grifos: Sandra Oliveira

29/05/2018

Santo da Semana: Emília e Basílio, Santidade em Família - Ano do Laicato




Reprodução.
A família de santos: São Gregório, Santa Macrina, Santa Emília, São Pedro e São Basílio Magno.



A santidade é para todos!


No Catecismo da Igreja, nos documentos e na Palavra de Deus, o convite a uma vida de perfeição da caridade e a plenitude da vida cristã é indicada como vocação universal de todos os batizados.

Nesse caminho não estamos sozinhos. Ao longo da história, muitos foram os homens e mulheres que trilharam o caminho da perfeição, da renúncia e do combate espiritual para viver uma vida em plena comunhão com Deus.

Papa Francisco lembra que os santos são “amigos de Deus” e nos mostram que buscar uma vida de santidade “não decepciona”.

De modo mais simples, Francisco ainda lembra que é na vida cotidiana que somos chamados a viver segundo o Espírito. “Ali onde você trabalha você pode se tornar santo”. Mas também na família, onde partilhamos de modo mais íntimo a nossa vida, é que devemos buscar viver a santidade. Não é fácil, mas é possível!

Veja o exemplo dos pais santos, Emília e Basílio, que viveram no século quatro depois de Cristo.

Emília, filha de um mártir, teve nove filhos e destes quatro se tornaram santos: São Basílio Magno, Santa Macrina, São Gregório de Nissa e São Pedro Sebaste.


A santidade dessa família se apresenta entre os ritos da Igreja do Oriente e do Ocidente.


Dos quatro filhos do casal, destaca-se São Basílio Magno, que é doutor da Igreja.

São Basílio Magno também conviveu com outro santo, São Gregório Nazianzeno. Reúne em sua pessoa um grande homem da Igreja e teólogo, fundador do monacato oriental e perfeito humanista.
 
  Santa Macrina, a jovem. Recebeu esse nome porque o herdou de sua avó. Era a filha mais velha e junto da mãe, formaram um convento onde viveram uma vida modesta, de oração e ajudando os pobres. Ela teve importante papel da educação dos irmãos, o que é descrito por eles em seus escritos.

São Gregório de Nissa pode ser comparado a Tomás de Aquino por enfrentar os problemas em sintonia com a fé e a razão.

São Pedro de Sebaste era o mais jovem dos irmãos e foi muito instruído pela sua irmã. Morou junto com o irmão Basílio, no mosteiro masculino fundado por sua mãe e ali viveu dividido entre os estudos, na ajuda aos necessitados e na oração.


Além dessa família, a Igreja conta ainda com o exemplo de muitos irmãos santos e casais santos.




Via: A12 
Grifos: Sandra Oliveira

25/05/2018

Mês Mariano: Nossa Senhora da Amazônia




A designer Lara Denys, autora do ícone de Nossa Senhora do Amazonas (NSA), ao qual ganhou o concurso de pinturas sob solicitação da arquidiocese de Manaus em 2010, faz uma explicação cheia de significados teológicos sem nem mesmo passar por uma aula desta matéria cientifica. A designer é uma entre tantos artistas ou iconógrafos que procura expressar sua fé. Não é de agora que isto aconteceu na história da Igreja. As representações artísticas já provem do séc. II nas catacumbas cristãs, onde a Virgem Maria e o menino Jesus são representados.

Percebe-se um caminho e experiência de fé que vem de um lar católico. Chama-nos a atenção a elementos importantes de sua apresentação e que não deixa de ser uma reflexão mariológica, tirada dos aspectos simbólicos que envolvem o ícone por ela criado com finalidade específica para um culto mariano.
Analisemos sintética e teologicamente o que a artista nos informa:
                            “Como retrataria uma Nossa Senhora que eu nunca tinha visto, e acima de tudo, uma Nossa Senhora que o próprio Amazônida conseguisse se reconhecer nela? Estudei a fisionomia do caboclo Amazônico, as poses corporais das imagens de arte sacras, o comportamento e vestuário indígena e suas formas de segurar uma criança. Estudei da teoria da cor à semiótica. Tinha que ser uma expressão reconhecidamente Amazônica ao primeiro olhar. E assim a imagem surgiu (1).”                            Lara Denys                        

Sem querer querendo, a autora cria o ícone de NSA a pedido da Arquidiocese de Manaus (AM) dentro do tema mariológico da Imaculada Conceição e não só isto, parece que no subconsciente, a representou sob a inculturação da aparição de Nossa Senhora de Guadalupe no México no séc. XVI. É clássico sobre a figura impressa na tilma do índio Juan Diego com características indígenas. Se tal aconteceu em 1531, nada desmerece o trabalho da designer Lara Denys, pois ela procura do melhor modo dar “forma” ao título proposto pela autoridade eclesiástica, que ao mesmo tempo se sentiu inspirada a dar um novo título a Virgem Maria nas terras do Amazonas.

A identificação que Lara procura representar o Amazônida (aquele que nasceu na região Norte do Brasil), com tez cabocla/morena/marron/vermelha e aplicá-la a Virgem Maria e a criança em seus braços, somos impulsionados a procurar tal identificação não em aspecto antropológico, mas sim Teológico. Só deste modo se pode garantir um título mariano aos moldes da fé católica. A fé católica não deve ser sincrética, isto é misturas e misturas de religiões que fazem mais confundir a mensagem do Evangelho ao invés de esclarecê-la. O Brasil é campeão em sincretismos e poucos esclarecimentos aos batizados, isto é, aos que assumiram Cristo como seu único salvador e Redentor.

Iniciamos o nosso caminho mariológico de NSA à luz da Sagrada Escritura. O texto mais adequado à Virgem Indígena, seria o Ct 1,5-6: "Sou negra/morena, mas sou bela, filhas de Jerusalém, como as tendas de Cedar, como os pavilhões de Salomão. Não repareis em minha tez morena, pois fui queimada pelo sol".
Ora, sobre a cor morena da Esposa do Cântico alguns autores eclesiásticos aplicaram a Nossa Senhora, e que faz parte de antiga tradição na história mariológica da Igreja e, propomos aqui, o exemplo luminoso de Tiago de Varagine († 1298) que faz significativa alegoria. Ele diz:
                            “Maria foi colorida de negro por causa da humildade. Quanto mais era branca e pura diante de Deus, tanto mais ela se julgava negra em relação a Ele. Frequentemente de fato um objeto luminoso produz efeitos escuros, como Agostinho ilustra com três exemplos. O fogo brilhante rende negros os carvões e a sua chama escurece tudo aquilo que chamusca; a prata, que é luzente, marca linhas negras; o óleo reluzente provoca manchas negras. A Bem-aventurada Virgem, embora havendo um fogo esplendoroso, isto é uma alma iluminada da sabedoria divina, embora havendo a prata luzente, isto é corpo virginal, embora havendo o óleo reluzente, isto é a abundância de méritos, sempre se sentia negra e modesta: «Sou morena mas formosa» (Ct 1,4). Notar que a cor negra chama a atenção e exalta o branco que está perto e talvez o ilumina, como acontece na pupila que quando é negra é mais brilhante que se fosse branca. O negro da humildade encerra, porém, interiormente todas as virtudes e a graça. (2)”                             Tiago de Varagine († 1298)                        
Na iconografia de Lara Denys, a inculturação é uma marca registrada, onde se percebe a necessidade de haver uma figura espiritual católica representativa do nativo brasileiro. Com suas semelhanças e diferenças torna claro que ela parece tornar-se porta voz de uma região. A coloração do ícone há a sua originalidade e imitações como vimos acima. No entanto, a aparição guadalupana é chamada em dois modos: la morenita (a moreninha) e a mestiça. É difícil de identificar a cor indígena com o moreno ou com o mestiço, pois o índio por si mesmo há uma coloração própria, sempre identificado como «índio». Mas os aborígenes norte americanos são conhecidos como os «pele vermelha» para os distingui-los dos brancos europeus, coisa que no Brasil colonial não encontramos tal comparação. Mas, os nossos índios brasileiros eram conhecidos como negros pela tonalidade da cor da pele, como nos afirma Sheila Castro: “Os índios, chamados na época, ‘negros da terra’ ou ‘negros brasis’... ” (3) . No entanto, a coloração indígena brasileiro não encontramos definições precisas pelos antropólogos ou especialistas no assunto. Contudo, os descobridores chegaram a América e pensando estarem na Índia, todos os habitantes das regiões descobertas ficaram conhecidos como «índios», onde foram comparados pela coloração da pele que se assemelha aos do continente indiano.
A artista na obra pictórica tenta dar vida à invocação criada pela Igreja amazonense, criando a figura de Maria, com as características indígenas, assim como o seu filho Jesus. O toque maternal da pintura entra no esquema da arte cristã desde o séc. II, porém a relação de Maria de Nazaré, mesmo que inculturada vai muito mais além do que uma maternidade natural. A maternidade divina de Nossa Senhora exerce forte influência na fé católica, pois a Igreja a vê também como Mãe, Esposa e Discípula do Senhor. Esta tríplice vocação perdura a séculos na história da Mariologia ao qual, dá o sentido teológico do serviço de Maria de Nazaré na obra da salvação.
Falamos acima sobre a tonalidade da pele de Maria na arte de Lara Dinys, mas ficou pendente a coloração do menino em seus braços. Fora das diversas polêmicas a respeito da cor de Jesus de Nazaré, e sem entrar no mérito da questão, tentaremos buscar uma hermenêutica da intensão inculturada da artista Lara.
Voltanto a temática da coloração indígena, o site https://www.brasil247.com nos informa a respeito dos índios americanos:
Pele vermelha. Os índios não eram vermelhos. Para se proteger do sol algumas tribos costumavam passar terra sobre a pele, e isso dava a eles uma tonalidade avermelhada. A cor da pele dos índios norte-americanos é a mesma dos seus antepassados longínquos que vieram da Ásia, aparentados aos modernos chineses, mongóis, japoneses e coreanos. (4)
Se os nossos indígenas brasileiros são originais de nômades oriundos do continente asiático e estes são comumente conhecidos como de «cor amarela», não custa ilustrar a pintura da artista com uma visão bíblica a respeito do Menino. Pois bem, utilizando ainda o Cântico dos Cânticos, os dois personagens são a centralidade da narrativa, o Esposo e a Esposa. A tradição da Igreja ainda no âmbito teológico-espiritual aponta para o Esposo como uma prefiguração de Cristo, assim como a Esposa, seria a prefiguração da Igreja e de Maria.
No que diz respeito ao “Menino Jesus-índio” nos braços de Maria-índia, utilizamos a exegese bíblica de Susana Aparecida sobre o Ct 5,9-16. A mestranda utiliza a versão da Bíblia Hebraica Stuttgartensia (BHS) que traduz o texto hebraico do seguinte modo os versículos de 9-10: v. 9a “Que é teu amado mais do que um amado, v. 9b ó mais bela entre as mulheres? v. 9c Que é teu amado mais do que um amado, v. 9d de modo que assim nos fizestes jurar?” v. 10a “Meu amado é claro e corado; v. 10b mais distinto do que dez mil". (5)
Segundo Susana, o texto apresenta as características do Amado com aspectos de beleza e nobreza. Mas tais versículos são repetidos em outras partes das Escrituras quanto a coloração sublinhada, dando a entender a importância dentro do contexto bíblico. No detalhe do Amado ser «rosado» que aparece cerca de oito vezes na BHS (cf. Gn 25,30; Nm 19,2; 2Rs 3,22; Is 63,2; Zc 6,2; Ct 5,10). Se nota, segundo a mestranda, uma certa ambiguidade onde não se esclarece de fato a tez do Amado se é «rosado ou ruivo». Mas os paralelos bíblicos apontam uma certa importância desta coloração pela sua beleza e sua importância na citação escriturística. No caso de Nm 19,2, no que se refere à Novilha vermelha, escolhida para o sacrifício, notamos a escolha divina pela característica especial do animal para a oferta do Templo. Tomando este detalhe de Nm 19,2 e o Esposo do Ct, interpretamos a intenção da designer Lara na sua inculturação que se adapta a importância e valor à raça indígena amazônica.
Dito isto, para esta nova devoção mariana ainda desconhecida em todo o Brasil, Nossa Senhora da Amazônia é uma devoção com sua iconografia bastante significativa, para nos comunicar que a arte procura fazer sua leitura inculturada, mesmo com teor de uma ingenuidade artística, mas que nos informa a contemplação da presença de Cristo e Maria em todas as raças, cor e nação. Nada mais nobre que a Arquidiocese de Manaus, ter dado ao índio a sua face espiritual e imagem e semelhanças divina, sendo eles também criaturas de Deus. Esta raça tão marginalizada e pouco valorizada no Brasil merece sim, se reconhecer com o toque da graça de Deus.



Celebração do Jubileu de Diamante

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