Quando a esperada vinda está finalmente para se realizar e todos os sinais a confirmam, a esperança e a preparação se transformam em alegria e júbilo. A curto prazo, a perspectiva da vinda transforma-se em antecipação da presença. Tal é o espírito do terceiro domingo do Advento. Neste ano C, é lido o texto que deu seu nome ao presente domingo: Gaudete, “Alegrai-vos” (FI 4, 4-7; 2ª leitura). O sentimento de viver na presença do Senhor deve produzir no cristão não apenas uma profunda alegria, mas também um novo tipo de relacionamento com seus irmãos humanos: O epieikes, o bom grado – o cristão não apenas tem alegria, mas é uma alegria para quem o encontra. Será verdade?
No evangelho, os que acolhem a pregação do Batista lhe pedem normas de comportamento em vista da vinda do Messias. Essas normas se resumem em uma só palavra: ser gente. Estamos acostumados demais a estes textos para lhes descobrir novidade. O normal que se esperaria do profeta e asceta seria: exercícios de penitência, jejum e cilício. Nada disso. Repartir aquilo que temos. Para os fiscais de imposto: serem honestos. Para os soldados: não molestar as pessoas e contentar-se com seu soldo. Ser gente, esta é a exigência quando o Reino de Deus acontece no meio de nós.
João sanciona essas orientações proclamando o significado decisivo do que está acontecendo e explica o sentido verdadeiro de seu sinal (seu “sacramento”), o batismo. É um sinal do verdadeiro batismo, que um mais forte do que ele vem administrar: o banho no Espírito e no fogo: no Espírito, para os justos, que serão impelidos pelo espírito de Deus, transformados em profetas (cf. Jl 3) e santos; no fogo, para os ímpios, que queimarão como o refugo na hora da ceifa. Pois o “mais forte” já está com a pá na mão para limpar o grão no terreiro.
Sofonias, numa linguagem que se aproxima do Segundo Isaías, proclama promessas de salvação. Javé revogou a sentença contra seu povo. Os povos felicitarão a “Filha (de) Sião”, Jerusalém, ou seja, o povo de Israel, porque Javé se revela no meio dela como um herói vencedor (1ª leitura).
Os textos de hoje (3º domingo) mostram bem o duplo sentido que a presença de Deus toma em nossa vida, em nosso mundo. A proximidade do Santo não é necessariamente terrível e mortal, como sugerem muitos textos do A.T., para o homem impuro. Para quem se converteu a Deus, sua proximidade é confirmação, força, razão de alegria. Quem dá a impressão de viver na presença de um Deus que o deprime, mostra uma falha em si mesmo. Quem, porém, se entregou a Deus e se sente bem com ele, é uma alegria para seus irmãos.
Isso vale também para a Igreja. Não podemos duvidar de que Deus está com ela. Mas será que ela está com Deus? Quando ela é um peso para os homens (não por sua exigência de fidelidade e virtuosa caridade, mas por seu egoísmo grupal, mesquinhez ou sei lá quê), ela mostra que a vinda de Deus não a transformou …
A alegria de Deus só se torna palpável em nós, quando realmente o desejamos em nosso meio. Não será grande parte da “tristeza” do cristianismo a conseqüência de os cristãos não desejarem Deus como centro de sua vida, de sua comunidade, de sua “cidade”? Reis cristãos exerceram atroz opressão em nome de Cristo, porque seu interesse não era a vinda de Cristo, com sua boa-nova libertadora para os pobres (aclamação ao evangelho), mas a implantação do próprio poder. Era uma cristandade ambígua, sem desejo de Deus e, portanto, sem alegria em lhe servir. Ouvimos hoje um apelo para nos libertar de nossos egoísmos pessoais e grupais (Fl 4,6). Então, Deus será reconhecível como aquele que é forte em nós e em nosso meio, e nossa própria existência e comunidade será o Evangelho por excelência.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
Grifos: Sandra Regina Oliveira Ofs (Redação - Pascom)
Arte: Rafael Duarte (Coordenação - Pascom)

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