São Marcelino viveu no século V, discípulo de Santo Agostinho, era um
alto funcionário do Império Romano, pai de família e homem muito
honrado, bastante estimado pelas pessoas.
Algumas décadas antes do nascimento de Marcelino, a Igreja enfrentava
o último e mais violento período de perseguição por parte do Império
Romano, na época governado por Diocleciano, talvez o mais implacável
inimigo da cristandade. Este imperador ordenava ao povo que entregasse e
queimasse todos os livros sagrados que possuíssem. Quem obedeceu a suas
ordens, passou a ser considerado como apóstata, ou seja, um traidor da
Igreja e da fé.
No ano de 310, Ceciliano foi eleito bispo de Cartago, no Norte da
África, mas teve sua nomeação para o cargo contestada, pois sua eleição
foi validada por um grupo de bispos traidores, ou seja, que tinham
aceitado entregar seus livros sagrados. Um dos bispos que contestou a
decisão foi Donato, conhecido por ter uma posição conflitante em relação
à doutrina da Igreja. Ele acreditava que os sacramentos só poderiam ser
ministrados por santos, não por padres pecadores, ou seja, pessoas
comuns e falhas.
Os seguidores de Donato deram então origem a uma doutrina herege que
ficou conhecida como donatismo e dividiu a Igreja durante alguns
séculos. Segundo esta crença, o catolicismo não deveria nem perdoar, nem
admitir pecadores, muito menos àqueles que houvessem negado à sua fé,
como muitas vezes aconteceu durante a perseguição.
Para evitar os martírios e torturas, alguns clérigos e fiéis
renegavam aquilo no que acreditavam, um pecado grave, mas a Igreja
estava disposta a acolhê-los de volta e reconciliá-los com Deus,
permitindo que continuassem atuando como padres caso se arrependessem de
seu pecado. O donatismo não concordava com essa postura.
São Marcelino viveu num período onde essa doutrina herege tinha ainda
grande influência. O santo ocupava dois importantes cargos na região do
Cartago. Era tabelião e tribuno. Atuando assim como um representante do
povo, uma espécie de porta voz da população perante as autoridades do
Império Romano.
Era muito religioso e tinha uma profunda ligação com Santo Agostinho,
bispo de Hipona. De fato era reconhecido pelas pessoas como um homem de
muita fé e dedicação à Igreja.
Interessado em aprender, muitas vezes se dirigiu a Santo Agostinho
para esclarecer algum ponto controverso da doutrina cristã que fugia ao
seu entendimento. Algumas obras escritas por Agostinho surgiram a partir
dessas consultas feitas por Marcelino.
No entanto, Marcelino não teve a oportunidade de ler essas obras.
Estava presente em uma conferência no Cartago, em 411, da qual
participaram bispo donatistas e bispos fiéis a Igreja. São Marcelino
nesta ocasião, se colocou ao lado dos bispos que se mantiveram leais a
doutrina oficial da Igreja.
Por isso os donatistas resolveram se vingar, acusando Marcelino de
ter cumplicidade com Heracliano, governador da província africana que
havia tentado dar um golpe de estado contra o imperador romano Honório, a
fim de tomar para si o comando do Império.
A acusação era muito grave e Marcelino foi condenado à morte. Um ano
após sua execução, o próprio imperador Honório reconheceu a injustiça
cometida contra o santo, considerando como um grave erro da justiça
romana. Assim a acusação foi anulada e a Igreja passou então a venerar
Marcelino como um santo mártir, que havia morrido em defesa da fé.
Os últimos momentos da vida do santo foram relatados por São Dâmaso,
que na infância ouviu do próprio carrasco de Marcelino o relato da morte
do mártir. Segundo o executor, as autoridades haviam ordenado que a
cabeça do santo fosse cortada às escondidas, no meio de um bosque, para
que ninguém soubesse onde encontrava-se o corpo do mártir.
As obras de Santo Agostinho baseadas em suas conversas com São
Marcelino tratam da remissão dos pecados, do Espírito e da Santíssima
Trindade.
Sua festa litúrgica acontece no dia 6 de abril, data de sua morte. São Marcelino é considerado o padroeiro dos injustiçados.
São Marcelino, rogai por nós!

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